Bala Perdida ou Bala Encontrada?

O que é "bala perdida"? Seria uma bala que atinge algo ou alguém que não era o alvo? Mas como chamar de bala perdida uma bala que encontra uma vítima, em sua casa, no seio de sua família? Como dizer a um pai e uma mãe que eles perderam seu filho com uma "bala perdida" que encontrou o seu filho no momento que ela se encontrava pronto para ir dormir, na expectativa de acordar e ir a escola, encontrar seus amigos, jogar seu futebol, entrar na roda de capoeira, se dando o direito de ser uma criança como outra qualquer, pensando em ser um grande adulto e mestre de capoeira, e que é natural ao ser humano nascer, crescer, tornar-se adulto e envelhecer com dignidade e orgulho de seus feitos? Não gente, esta não foi uma bala perdida, infelizmente. Gostaria eu de ler e falar que uma bala perdida se perdeu não encontrando alvo nenhum. Gostaria eu de dizer e ler que uma bala perdida foi encontrada no centro de treinamento de tiro ao alvo da polícia. Adoraria ler ou assistir que uma bala pedida foi encontrada no espaço onde ela não poderia, jamais, fazer vítimas. Mas não é isso que lemos, assistimos, ouvimos e discutimos todos os dias em todo o país. O que dizer para uma mãe e um pai que perderam seu filho de uma forma tão brutal e tão estúpida? Não tenho palavra, pois a dor de perder um filho é tamanha, tão absurda que se perde as palavra em todos os idiomas existentes no mundo. Esta dor é tão grande, tão infame que não tem nome. Quem perde um conjuge (esposo ou esposa), chamá-se viúvo(a); quem perde um pai ou mãe, chamá-se órfão, mas quem perde um filho, esta perda não tem nome de tão gigante e absurda que é. Para quem não sabe, existe um livro cujo o título é "Dor Sem Nome". Tudo que posso fazer é desejar que Deus e o tempo ajude estes pais a curar ou minimizar essa dor. Que guardem com muito carinho as lembranças de cada segundo de vida desse amado filho. Que torne alto o grito de dor e desejo de justiça para todo mundo, que faça-se ouvir não só a Bahia, mas todo o mundo, para que se veja e ouça a ausência de Joel e que seja cobrada justiça até que justiça se faça, para que nossas outras crianças não venham perecer diante de tal absurdo. Que nossa polícia seja eficaz no combate a infração da lei, mas sensível ao entrar em um bairro, pois nestes bairros há famílias que vivem de acordo com as leis, que prezam pelo bem estar comum de todos e que valorizam o bom trabalho policial. Eu, como mãe sinto muito sua dor, e como mãe, não sei mais o que dizer. Peço a Deus que os fortaleçam, porque fico engasgada em suas dores quando lembro, quando ouço e quando converso sobre essa tragédia que afetou a todos nós. (Elisângela Lopes, Salvdor, Bahia - Brasil, clama por justiça)

*No vídeo abaixo o depoimento do grande menino Joel ao lado de seu pai, mestre Ninha, que tinha o sonho de ser mestre de capoeira, mas que teve seus sonhos interrompidos por essa tragédia.